Identificar medidas prioritárias para o reforço da competitividade da economia nacional, aumentar salários e reter talentos constituem objetivos legítimos dos portugueses. Cansados de serem encarados como os europeus que mais horas trabalham, mas também os que menos produzem e menos ganham, os eleitores anseiam por mudanças.
É certo que melhorias como a redução de impostos às empresas e aos trabalhadores, a revisão dos exageros ‘eleiçoeiros’ da legislação laboral são positivas e rendem votos, mas, per se, não passam de medidas paliativas que aliviam temporariamente os sintomas de mal-estar social que os sucessivos governos nunca foram capazes de erradicar.
Será impossível construir um país competitivo se não for dada prioridade à resolução dos problemas endógenos
Será impossível construir um país inovador, competitivo, socialmente justo e mais próspero, do qual os portugueses se orgulhem, se não for dada prioridade à resolução dos problemas endógenos — da pobreza, natalidade, educação, saúde, habitação, desigualdades sociais e culturais —, com que os portugueses se debatem desde sempre. Numa altura em que Portugal beneficia de um contexto económico favorável e contas públicas equilibradas e sustentáveis, esperemos que o XXV Governo aproveite para promover a resolução de problemas que podem não se traduzir imediatamente em votos, mas deixarão marcas profundas no futuro.
Reconhecendo a dificuldade de resolver, no curto a médio prazo de uma legislatura, os graves problemas estruturais que caracterizam a realidade portuguesa, o XXIII Governo aprovou a Lei das Grandes Opções, com o objetivo de fazer uma programação orçamental entre 2022 e 2026 que integrava cinco áreas de atuação, um desafio transversal de boa governança e quatro desafios estratégicos: alterações climáticas, demografia, desigualdades sociais e, ainda, sociedade digital e inovação. Com a queda, em 2025, do Governo, é preciso aguardar pela publicação do próximo Orçamento do Estado, para 2026, para perceber de que lado sopram os ventos da mudança.